A Bíblia, no meu ponto
de vista, é um dos melhores livros já escritos. Mesmo não tendo religião, já li
tantas vezes que me sinto familiarizado com os textos. Discuto frequentemente
assuntos contidos no Velho e no Novo Testamento com amigos, religiosos e
teólogos, aprendendo e refletindo o seu conteúdo. Assim, humildemente, elaborei
um resumo sobre sua criação utilizando o texto de José Francisco Botelho (Abril), o de Carlos Augusto Ferreira (*) e o de Robert G. Ingersoll (The Secular Web). É importante dizer
que não sou o dono da verdade e nem pretendo apresentar novidades, apenas um
simples texto sério e sem a pretensão de agradar todos.
Na Bíblia encontramos a história de Deus escrita pelos homens. Mas quem é o autor do livro mais
influente de todos os tempos? Segundo Santo Tomás de Aquino, "É a ação de Deus, movendo e dirigindo o
autor na produção do livro, preservando-o de erros, de forma que é Deus o autor
e o homem mero instrumento usado para escrever". Mas, como poderemos
ver neste artigo, o conteúdo da Bíblia mudou muito com o passar do tempo. A
Igreja se defende dizendo que "Na
redação dos livros sagrados, Deus escolheu homens, dos quais se serviu
fazendo-os usar suas próprias faculdades e capacidades a fim de que, agindo Ele
próprio neles e por eles, escrevessem, como verdadeiros autores, tudo e só
aquilo que Ele próprio quisesse". Portanto, cabe ao leitor uma
reflexão sobre o assunto.
Segundo Carlos Augusto Ferreira, tudo
começou através de transmissão oral. Seguindo a cronologia bíblica, a
transmissão começou por Adão, que levou os ensinamentos até os seus 930 anos de
vida, passando para Lameque que passou para seu filho, Noé. Noé transmitiu a
Abraão que narrou a seu neto Jacó. Jacó narra tudo para Arão e este, para
Moisés que era seu filho, terminando a transmissão oral da palavra de Deus. Deus
disse a Moisés: “Escreva isto para
memorial num livro” (Ex 17: 14). Naquela época, estes andarilhos não faziam comércio com outras
nações, não possuíam linguagem escrita, não podiam ler nem escrever. Não
possuíam meios para fazer com que outras nações tomassem conhecimento daquela
revelação, que assim permaneceu enterrada no linguajar de umas poucas tribos
ignorantes, empobrecidas e desconhecidas por mais de dois mil anos.
Os textos escritos começaram por volta do
século 10 a.C., quando uma pessoa normal, em algum lugar do Oriente Médio,
decidiu escrever um livro e, utilizando os recursos limitados da época, começou
a contar uma história, diferente de tudo o que já havia sido escrito. Foi um
“best seller” que outras pessoas continuariam reescrevendo, rasurando e
compilando.
A revelação divina, conforme a própria
Igreja, veio pelas mãos humanas, portanto, escrita por mortais, com textos
montados pelo tempo, pela história e pela fé. O termo “Bíblia” que usualmente é
utilizado no singular vem do plural grego “ta biblia ta hagia”, que significa
“os livros sagrados”. Seguindo a Igreja Católica, os 5 primeiros livros do
Antigo Testamento (que no judaísmo se chamam Torá e no catolicismo Pentateuco)
teriam sido escritos pelo profeta Moisés por volta de 1200 a.C.(1).
Os Salmos seriam obra do rei Davi(2), o autor de Juízes seria o
profeta Samuel(3), e assim por diante. Entretanto, não foi bem
assim.
(1)
Segundo Carlos Augusto Ferreira, até o
século XVIII d.C., acreditava-se que Moisés tinha escrito o Pentateuco, mas, atualmente,
acredita-se que não foi bem assim. A Igreja Católica aceita que Moisés foi quem
fez a primeira codificação das leis de Israel e, logo após, o bloco de
tradições foi enriquecido com novas leis devido às mudanças históricas e
sociais de Israel, até o tempo de Jesus. A partir de Salomão (972-932), passou
a existir a corte dos reis, tanto de Judá quanto de Samaria, um grupo de
escritores que zelavam pelas tradições de Israel, os escribas e sacerdotes que
originaram quatro coleções de narrativas históricas que deram origem ao
Pentateuco (Torá). Segundo
Robert G. Ingersoll, nele são mencionadas cidades que nem existiam na época em
que Moisés viveu e nem é mencionado dinheiro que só foi cunhado séculos após
sua morte. Assim, muitas das leis não eram compatíveis com viajantes do
deserto, como exemplo: leis sobre agricultura, sobre o sacrifício de bois,
ovelhas e pombas, sobre tecelagem de roupas, sobre ornamentos de ouro e prata,
sobre o cultivo da terra, sobre a colheita, sobre o debulhamento de grãos, sobre
casas e templos, sobre cidades de refúgio e sobre muitos outros assuntos que
não possuíam qualquer relação possível com uns poucos viajantes famintos.
(2)
Segundo Robert G. Ingersoll, os
Salmos não foram escritos por Davi. Neles fala-se da escravidão, a qual somente
ocorreu por volta de cinco séculos após Davi ter “dormido” com seus pais.
(3)
Ainda considerando Robert G. Ingersoll, ninguém conhece ou finge
conhecer o autor de Juízes; todos sabemos que foi escrito séculos após os
juízes terem deixado de existir. Ninguém conhece o autor de Rute, nem o
Primeiro ou o Segundo de Samuel; sabemos apenas que Samuel não escreveu os
livros que têm seu nome. No 25° capítulo de I Samuel é narrada a criação de
Samuel pela feiticeira de Endora.
As histórias contidas na Bíblia, como nos
demais livros sagrados, derivam de mitos e lendas que foram adaptadas à
realidade de seus seguidores. No caso da Bíblia, as histórias foram originadas
na chamada Terra de Canaã, que hoje corresponde a Líbano, Palestina, Israel e
pedaços da Jordânia, do Egito e da Síria. Também encontramos participação dos
sumérios, antigos habitantes do atual Iraque, que no 3° milênio a.C. escreveram
a Epopéia de Gilgamesh. Este semideus era muito semelhante a Cristo, que
possuía características de ser humano e divino ao mesmo tempo. Até o dilúvio
bíblico foi copiado desta epopéia, onde o mundo foi devastado por uma enchente
e algumas pessoas se salvaram em um barco. Portanto, a Bíblia recebeu
influência de várias culturas.
Com a unificação das tribos hebraicas feita
por Davi, por volta do ano 1.000 a.C, os escritores hebreus começaram a redigir
a primeira versão das Escrituras, contemplando o Gênesis e o Êxodo. Logo no
início surgiram problemas com a palavra “Deus”, que foi tratado por dois nomes
diferentes. Em alguns trechos ele é chamado pelo nome próprio, Yahweh (= Javé
ou Jeová) e, em outros momentos, “Deus” é chamado de Elohim. Como se explica
isso? Para os religiosos radicais Moisés escreveu tudo sozinho e usou os dois
nomes. É difícil de aceitar a explicação dos radicais porque existe a narrativa
da morte do próprio Moisés. Isso indica que ele não poderia narrar a sua morte,
não sendo o único autor. Os historiadores e a maioria dos religiosos aceitam
outra hipótese: esses textos tiveram, pelo menos, dois editores. As escritas
destes editores foram discordantes, o Javista diz que Deus fez o mundo em
apenas um dia e o Eloísta fez o mundo em 6 dias e descansou no 7° dia. Com o
passar dos tempos, como já esperado, a narrativa mais comportada do Eloísta
predominou e hoje conhecemos: “E, no início, Deus criou o céu e a terra...”
Com a derrota de Jerusalém para os
babilônicos em 589 a.C., grande parte da população foi levada para o sul do
Iraque e, depois de décadas, conseguiu retornar a Canaã, com um único Deus, Javé.
Portanto, o monoteísmo pode ter surgido pelo contato com os persas, pois a
religião deles, o masdeísmo, pregava a existência de um Deus bondoso, Ahura
Mazda, em constante combate contra um deus maligno, Arimã. Melhores detalhes
podem ser encontrados no meu livro “Entre
o céu e a Terra”.
Por volta de 389 a.C. um religioso chamado
Esdras liderou um grupo de sacerdotes para mudar o judaísmo com a versão final
do Pentateuco. Editaram os livros anteriores e escreveram a maior parte dos
livros Deuteronômio, Números, Levítico e também os 10 Mandamentos. É importante
registrar que os Dez
Mandamentos (Decálogo) é o nome dado ao conjunto de leis que,
segundo a Bíblia, teriam sido originalmente escritos por Deus em tábuas de
pedra e entregues ao profeta Moisés no Monte Sinai. Conforme a lenda, as tábuas
de pedra originais foram quebradas, de modo que, segundo Êxodo 34: 1, Deus teve
de escrever outras, agora de forma mais prática de carregar.
A primeira tradução do Antigo Testamento
ocorreu por volta do ano 200 a.C., sob a ordem do rei Ptolomeu 2° em
Alexandria, no Egito, que era um grande centro cultural da época. Essa tradução
(de hebraico para grego) foi realizada por 72 sábios judeus. Por isso, o texto
é conhecido como Septuaginta. Dois séculos mais tarde, a Bíblia, que também foi
traduzida para aramaico, era o livro mais lido na Judéia, na Samária e na
Galiléia (províncias que formam os atuais territórios de Israel e da
Palestina). Foi aí que surgiu Jesus de Nazaré.
Hoje,
segundo Carlos Alberto Ferreira, são reconhecidos pelos especialistas 5236
manuscritos do texto original grego do Novo Testamento, distribuídos em 81
papiros, 266 códigos maiúsculos, 2754 códigos minúsculos e 2135 lecionários.
Surge um grupo subversivo, o cristianismo. A
subversão estava ligada à negação de cultuar os deuses oficiais do Império
Romano. Foi nesse clima de medo que os cristãos passaram a colocar no papel as
histórias de Jesus, que circulavam em aramaico e também em coiné, que era um
dialeto grego falado pelos mais pobres. Na tentativa de discutir suas origens,
os cristãos criaram o Evangelho, palavra originária do grego evangélion
(boa-nova), um tipo de narrativa religiosa contando os milagres, os
ensinamentos e a vida do Messias.
Alguns Evangelhos conseguiram sobreviver ao
tempo porque foram copiados, sempre à mão, por membros da Igreja. No século 4
surgiu um precursor do “livro”, o formato de códice, que eram folhas de couro
encadernadas. Mas os textos originais já haviam sido alterados com o passar de
tantas cópias, mudando o sentido dos textos. Em certos casos, tais erros foram
também propositais, de acordo com a teologia do escritor.
Segundo José Francisco Botelho, um exemplo da modificação feita na Bíblia
pode ser observado na famosa cena em que Jesus salva uma adúltera prestes a ser
apedrejada. De acordo com especialistas, esse trecho foi inserido no Evangelho
de João por algum escriba, por volta do século 3. Isso porque, na época, o
cristianismo estava cortando seu cordão umbilical com o judaísmo. E apedrejar
adúlteras é uma das leis que os sacerdotes-escritores judeus haviam colocado no
Pentateuco. A introdução da cena em que Jesus salva a adúltera passa a ideia de
que os ensinamentos de Cristo haviam superado a Torá e, portanto, os cristãos
já não precisavam respeitar ao pé da letra todos os ensinamentos judeus.
O medo das mudanças nos textos da Bíblia era
tão grande que no Apocalipse, versículo 18 e capítulo 22, pode-se ler “Se
alguém fizer acréscimos às páginas deste livro, Deus o castigará com as
pragas...”, refletindo o clima dos primeiros séculos do cristianismo, que
era caracterizado como uma verdadeira baderna teológica, com montes de seitas
defendendo ideias diferentes. A confusão, já esperada no início de uma religião
que se tornou uma das mais influentes na humanidade, pode ser observada na
concepção da pessoa de Jesus. Os Docetas acreditavam que Jesus não teve um
corpo físico, sendo um espírito, e a sua crucificação e morte foram apenas
ilusão de ótica. Já os Ebionistas acreditavam que Jesus não nasceu como Filho
de Deus, mas foi adotado, já adulto. A primeira tentativa de organizar esse
bagunça nas Escrituras ocorreu por volta de 142 por um rico comerciante de
navios chamado Marcião.
Marcião era turco e, quando morava em Roma,
montou uma seleção de textos sagrados, diferentes da Bíblia utilizada hoje
devido, principalmente, à sua seita, o gnosticismo. Aqui podemos entender o
lado “do bem” e o “do mal” na Bíblia, porque os gnósticos acreditavam na
existência de duas divindades inimigas de morte: o Deus hebraico que era monstruoso,
sanguinário e controlava apenas o mundo material, e o Deus bondoso, pai de
Jesus, que controlava o Universo espiritual. Neste livro, só existia o
Evangelho de João, 11 cartas de Paulo e nenhuma página do Velho Testamento,
portanto, se este livro fosse adotado, hoje as histórias de Adão e Eva no
paraíso, a arca de Noé e a travessia do mar Vermelho não seriam aceitas pelos
religiosos radicais como verdades plenas. Entretanto, por volta de 170, o
gnosticismo foi declarado proibido pelas autoridades eclesiásticas, e o
primeiro editor da Bíblia cristã acabou excomungado.
Somente no ano 313, com o imperador romano
Constantino, aliado da Igreja, a religião cristã se fortaleceu junto com o
império. Com uma fé única e sólida e “oportunista”. Constantino convenceu os
mais influentes bispos cristãos a se reunirem no Concílio de Nicéia, em 325,
onde surgiu o cânone do cristianismo, a lista oficial de livros que, segundo a
Igreja, realmente haviam sido inspirados por Deus. A escolha dos livros
sagrados foi, também, política, porque existiam facções religiosas distintas e
aquela do lado do império, os cristãos apostólicos, definiram o que iria entrar
ou ser eliminado das Escrituras.
Como podemos observar, a decisão do que
estaria presente na Bíblia foi muito parcial, contendo os Evangelhos de Marcos,
Mateus, Lucas e João para representar a biografia oficial de Cristo, eliminando
as Escrituras dos Docetas, dos Ebionistas e de outras seitas, e seus autores
declarados, como era de se esperar, hereges. Os textos excluídos do cânone
ganharam o nome de “apócrifos” (palavra que vem do grego apocrypha, “o que foi
ocultado”). Estes livros perderam o interesse e não foram feitas cópias e a
maioria se perdeu no tempo, até que no século 19, pedaços desses textos foram
encontrados nas areias do Oriente Médio.
Em 1947 foram encontrados em Qumram, no
deserto de Judá, Israel, os manuscritos do Mar Morto, que datam do século II
a.C. até o século I d.C. Os 40 mil manuscritos continham textos da Bíblia
hebraica, exceto o livro de Ester. Estes achados permitiram retroceder mil anos
de história da Bíblia e certificaram a base dos textos existentes hoje.
Bom, voltando ao texto, agora a base do
cristianismo estava em Roma e, portanto, a Bíblia precisava de uma tradução
para o latim. A missão, que durou 17 anos, coube ao teólogo Eusebius
Hyeronimus, que mais tarde viria a ser canonizado com o nome de São Jerônimo.
Sob ordens do papa Damaso, ele viajou a Jerusalém em 406 para aprender hebraico
e traduzir o Antigo e o Novo Testamento, originando a Vulgata,
a Bíblia latina, que até hoje é a base do texto oficial da Igreja Católica,
reinando absoluta ao longo da Idade Média.
É importante registrar que, segundo Carlos Alberto
Ferreira, as traduções não foram inspiradas por Deus, porém servem de testemunho
da existência e autenticidade dos originais: “Se não pudermos ter as palavras
exatas pelas traduções, ao menos teremos o sentido sem conflito qualquer de
doutrinas”.
Agora
traduzida para o latim, a Bíblia precisava ser divulgada. Este trabalho foi
entregue aos monges copistas que passavam a vida fazendo cópias à mão,
catalogando manuscritos antigos e, como era de se esperar, incluindo e
modificando textos da Bíblia para agradar a reis e imperadores. Entretanto, o
trabalho destes monges foi muito importante para a sobrevivência de muitos
livros após a queda do Império
Romano, como exemplo, a Ilíada e a Odisséia.
Com a invenção da imprensa
feita pelo alemão Johann Gutenberg, em 1455, os livros puderam ser produzidos
em massa. Agora os problemas estavam relacionados às traduções. Martinho
Lutero, em 1522, traduziu a Bíblia do hebraico e do grego para o alemão,
incluindo mudanças que não agradaram a Igreja. Outro exemplo foi a tradução
feita pelo britânico William Tyndale, que traduziu a Bíblia para o inglês e,
novamente, com alterações.
Para o português, a
tradução foi feita em 1753, pelo protestante João Ferreira de Almeida. Hoje, a
tradução considerada oficial é a feita pela Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB) e lançada em 2001. Ela é considerada mais simples e coloquial que
as traduções anteriores. De lá para cá, a Bíblia ganhou o mundo e as línguas.
Já foi convertida para mais de 300 idiomas e continua um dos livros mais
influentes do mundo: todos os anos são publicados 11 milhões de cópias do texto
integral, e 14 milhões só do Novo Testamento.
O mais importante em relação à Bíblia é sua
interpretação, às vezes, com propósitos equivocados. Em pleno século 21,
pastores fundamentalistas tentam proibir o ensino da Teoria da Evolução nas escolas dos EUA, sendo que
a própria Igreja aceita as teorias de Darwin desde a década
de 1950. Segundo José Francisco Botelho, líderes como o pastor Jerry Falwell defendem o retorno da escravidão e
o apedrejamento de adúlteros, e no Oriente Médio, rabinos extremistas usam
trechos da Torá para justificar a ocupação de terras árabes. Por quê? Porque
está na Bíblia, dizem os radicais. No meu livro “Entre o céu e a Terra” foi discutido que a Bíblia não deve ser lida
como um “manual científico” ou de regras literais, e sim como o relato da
jornada humana em busca de Deus.
Encontrando
“eco” nas palavras de Robert G. Ingersoll, podemos questionar se realmente este
livro teve uma inspiração Divina. “Caso
tivesse, deveria ser um livro que nenhum outro homem – ou grupo de homens –
pudesse produzir. Deveria conter a perfeição da filosofia”. Deveria estar
totalmente de acordo com cada fato da natureza. Não deveria conter erros em
astronomia, geologia ou em quaisquer outros assuntos ou ciências. Sua moral
deveria ser a mais sublime e pura. Suas leis e suas regras para controle de
conduta deveriam ser justas, sábias, perfeitas e perfeitamente adequadas aos
fins visados. Não deveria conter quaisquer coisas que tornassem o homem cruel,
vingativo ou infame. Deveria estar repleto de inteligência, de justiça, de
pureza, de honestidade, de clemência e de espírito de liberdade. Deveria
opor-se à contenda, à guerra, à escravidão, à cobiça, à ignorância, à
credulidade e à superstição. Deveria desenvolver o intelecto e civilizar o
coração. Deveria satisfazer o coração e a mente dos melhores e dos mais sábios.
Deveria ser verdadeiro.
Na
verdade, a Bíblia é apenas um livro muito antigo que contém as crenças, os
costumes e os preconceitos naturais de seus autores e dos povos entre os quais
viveram. Conforme os antigos hebreus acreditavam e está citado na Bíblia, a
Terra era o centro do Universo, plana e com quatro cantos; o Sol, a Lua e as
estrelas eram manchas no céu; o céu, o firmamento, era sólido e era o piso da
morada de Jeová; imaginavam que o sol viajava ao redor da Terra e que,
parando-se o sol, o dia poderia ser prolongado; acreditavam que Adão e Eva
foram os primeiros seres humanos e que haviam sido criados poucos anos antes
deles, os hebreus, e que eles próprios eram seus descendentes diretos.
Como
podemos observar, se há algo certo, é que os autores da Bíblia estavam
enganados sobre o que a ciência nos diz hoje. Portanto, devemos admitir que, se
o autor da Bíblia foi um ser Divino e criador de tudo, então deveria saber
todas as ciências, todos os fatos, e estar acima de quaisquer erros. Se existem
erros, enganos, falsas teorias, mitos ignorantes e asneiras na Bíblia, então
ela deve ter sido escrita por seres comuns; ou seja, por homens com culturas
simples e arcaicas típicas de cada época. Nada poderia ser mais óbvio que isso.
Entretanto,
este livro nada perde de importância para a religiosidade dos seus seguidores,
porque, mesmo com alguns momentos “críticos”, continua sendo uma obra
fascinante e que continua a orientar o caminho da fé de seus devotos. Como observaram, evitei escrever sobre
conflitos e erros no conteúdo da Bíblia, ficando estes textos para uma próxima
oportunidade. Espero que eu tenha ajudado a entender um pouco a história deste
livro tão importante, embora não tenha incluído, como era de se esperar, fatos
sobrenaturais na sua criação. Cada um interprete de sua maneira e reflita, sem
o peso e imposições sobre a sua cabeça.
Edson Perrone
(*) Ferreira, C. A. Módulo I,
Introdução ao estudo das escrituras sagradas. Escola de aprofundamento
da fé. Mensageiros da Boa Nova.
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